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ego

Fanatismos incondicionais à parte, o nosso ego em tudo se assemelha a um singular animal carente de aceitação e conforto, esperando pacientemente pelos nutrientes que o seu dono lhe fornece diariamente ao longo de toda a sua duradoura vida. Aquando da falta do bolo alimentar necessário para se manter, o ego aventura-se a enfrentar um temeroso esgotamento que pode mesmo levar o seu portador a uma quebra incontornável do seu brio e fulgor habitual. Um indivíduo não precisa de despender muito do seu tempo a analisar um grupo de pessoas para entender que todo o jogo de palavras que entre elas decorre se resume a uma luta de egos, ciosos de sobressair mais do que os outros animais, impacientes por devorar cada pensamento mais ou menos elaborado que os seus proprietários souberam conjugar. Na grande maioria das partes fazemo-lo de forma involuntária, comparando pensamentos ou formas de agir nas mais diversas situações, mas são também muitas as vezes em que se torna descarado o modo como outrem tenta imprimir no nosso raciocínio as suas certezas absolutas e absolutamente disparatadas. Cair em jogos de egos é um dos maiores erros em que a pessoa pode capitular, sob pena de entrar numa luta da qual não quer fazer parte e na qual, uma vez dentro, não poderá sair sem entrar em extremismos inadvertidos e que em nada se assemelham às reais aspirações individuais.

Gosto de egos pouco insuflados, senhores do seu devido e merecido orgulho mas que sabem quando é tempo de parar. Por outro lado, abomino egos, como o meu, que por vezes não conseguem controlar a verborreia automaticamente debitada que libertam em pleno debate de ideias e que, em geral, transportam quem nos ouve até uma refulgente estupefacção seguida por um imenso descrédito por tudo aquilo que queremos realmente afirmar. Cada vez mais se diz muito sem pouco dialogar, o que leva a um inevitável afastamento das pessoas e a uma precariedade no juízo que das nossas ideias e posições se retiram. É uma pena. A culpa, acho, é da necessidade de termos um ego maior do que aquele que realmente nos assenta às medidas.

escrito por Pedro a 27 dezembro 2006 //

metamorfoses

A dor é capaz de incapacitar todo o teu raciocínio, afastar qualquer vontade de acordar que pudesse alguma vez restar, premiar o desmazelo e a impertinência de um corpo oferecido às maravilhas da indolência. Ela pode arrastar dias da tua vida e torna-los em anos bem crescidos que tu jamais lembrarás de ter visto passar, consegue apagar traços de felicidades empíricas e semear dúvida em lugares eternamente inabaláveis. A dor que te consome tem em ti um porto seguro que não pensa deixar. Ela devora-te. E no entanto, é essa mesma dor que te transforma. A dor aguda que se apropria da tua exuberância leva à delicada mas inquietante dúvida, a dúvida ao problema que formulas para com ele conseguires ganhar algo de bom, o problema à reflexão, reflexão esta que te desgasta mais do que a própria dor que tanta agonia causava no início do parágrafo. E por último, é a reflexão que te faz alcançar um desígnio capaz de te fazer ver que a dor em si é ridícula e supérflua, que humano como és consegues pegar na tua aflição e transforma-la numa lição. É este desígnio que fará de ti uma pessoa melhor. A dor é útil. Só precisas de suportar a bofetada com um sorriso maior do que aquele presente na cara de quem ta dá, mesmo que esse alguém sejas tu.

escrito por Pedro a 19 dezembro 2006 //

o espelho

Uma e dezanove da manhã. Dentro do teu quarto o silêncio supera a escuridão, sinal de que deverias estar a embarcar no mais profundo sono. Inversamente, lá fora o temporal não se mostra disponível para cessar, ouvindo-se gritos trazidos pelo vento e ritmados por uma batida irregular da chuva nas paredes do teu quarto. Passaram aproximadamente quinze horas desde que te levantaste e, no entanto, nenhuma delas fez para ti qualquer diferença. Muitas coisas deverias ter feito mas, chegando ao fim do dia, tudo permanece na mesma, como se o tempo tivesse aportado numa qualquer ilha no meio do Atlântico, esperando que tu estejas pronto para prosseguir o teu trajecto. A única diferença em relação ao dia de ontem é a folha nova no calendário e o agravamento do peso dantesco que carregas dentro da tua cabeça e do sufocante aperto a que está submetido o teu coração. Não tens determinação suficiente para te mexer. Estás apático, irresoluto. Sentes-te obtuso, ignorante, impaciente e debilitado. Hoje não gostas de ti. Por diversas vezes te olhaste no espelho. Para a maior parte das pessoas, fitar a pessoa no espelho faz parte de um ritual de agravamento da auto-estima, de assimilação da grandeza própria. Para ti, é uma tentativa de te encontrares, de tentares escapar do fundo buraco em que foste cair. Por diversas vezes te olhaste no espelho, mas em nenhuma delas encontraste o que querias. Com quinze horas de temporal decorridas, no espelho não consegues encontrar beleza ou deformidade. Apenas consegues fitar uns tristes olhos verdes, uns secos, carnudos e sozinhos lábios, uma desconfortável barba com alguns dias de vida e um desleixado cabelo que precisa seriamente de ver o chão de uma barbearia. Para quem te conhece, essas são imagens associadas a alguém que têm de ver a rir, alguém que não tem problemas. Para quem te conhece, a imagem que vês no espelho é mais uma das imagens que lhes preenche a pintura de cada dia. Para essas pessoas, uma vez adereço, a figura que tu vês no espelho pode ser bonita ou horrível, desconfortável ou tranquilizadora. Mas tu não a vês dessa perspectiva, pois hoje apenas consegues atentar no modo como ele se apresenta reflectida e desamparada à tua frente. Tentas ver para além do reflexo mas não consegues. Vais dormir sentindo que há muito que podes fazer por aquela terna figura que se mostra no espelho. Respiras fundo e tentas não pensar quão idêntico ao dia de hoje o amanhã será.

Vais adormecer com o mesmo peso dentro da cabeça e com o mesmo sufoco a mastigar o teu peito. Com alguma sorte, acordas diferente. A chuva pode ter caído durante todo o dia, mas quem sabe de onde podem aparecer os abrigos mais improváveis. Tudo o que tens a fazer é encontrá-los.

escrito por Pedro a 08 dezembro 2006 //

má sinfonia

És confiante. Tomas as decisões que precisas com uma determinação impossível de bater. És inteligente. Não deixas que ninguém tome por ti decisões para as quais sabes ser o melhor a aferir. És ponderado. Saber que decisão tomar e ter determinação para a pôr em prática carece de uma reflexão exaustiva, o que também sabes fazer. E no entanto, tens uma vontade inconcebível de deitar tudo a perder, uma necessidade insubstituível de destruir tudo aquilo que te faz bem. Já não consegues ser feliz sem ao mesmo tempo te sentires miserável. Achas que não mereces nada daquilo que por direito é teu e por isso destróis tudo o que te é oferecido. Achas-te um cancro, uma imperfeição que merece ser abatida e por isso escondes-te atrás de tudo aquilo que a ti se apresenta como um subterfúgio momentâneo e apetecível. Concretamente, já não consegues decidir a que ritmo queres pautar os teus dias, porque todos os eles acabam por se parecer com a mesma música arranhada e a semana a nada se assemelha àquela grande sinfonia que sempre imaginaste ter tua.

És confiante, inteligente e ponderado. Além do mais, encaras a tua vida de uma perspectiva com a qual pouca gente se identifica. Porque não usar então isso a teu favor?

escrito por Pedro a 05 dezembro 2006 //

uma de cada vez

Chegou a casa com a roupa ensopada. O dia nasceu soalheiro e, por isso, não lhe ocorreu pegar num dos muitos guarda-chuvas que tinha junto da saída do apartamento. Entre o nascer do dia e a hora a que chega a casa já muito se passou. Dissolvido nas almofadas sob a sua cama, de portátil assente no colo e com as gélidas mãos ocupadas com uma grande caneca de leite com chocolate quente, relega o resto do dia de hoje ao descartável, a todas as tarefas que não peçam mais dele do que uma respiração estável e constante. O dia de hoje, tal como todos os outros, foi longo. Maçador. Por ele os dias seriam mais curtos, gosta de dormir. Gosta de dormir mas sente-se inútil quando passa demasiado tempo na cama o que, a acontecer, regra geral, se traduz numa acesa discussão rematada por uma auto-flagelação irrisória. Nunca resulta, pois volta sempre a dormir de mais no dia seguinte. A fraqueza é um fardo insuportável. De qualquer das maneiras, ter dias longos implica saber ocupa-los bem e essa é mais uma das coisas que ele não sabe fazer. Chegou à conclusão que é no saber ocupar os dias que está o verdadeiro saber de ter uma vida normal. Não quer pensar, equacionar e questionar. Gostava de levar uma vida normal, sem complicações à sua volta.

Não vai conseguir. O mundo é mais duro do que ele, pedindo-lhe mais do que aquilo que ele quer realmente dar. Perdeu a vontade de dar valor às coisas, deixando-as ficar para trás uma de cada vez, não querendo ter mais nada da vida do que a sua própria consciência de que as coisas não deviam ser assim. Chegou a casa ensopado, e assim irá continuar. Não vai conseguir.

escrito por Pedro a 04 dezembro 2006 //

inconsciente auto-destruição

Nascemos para destruir. Pensem bem, sem nós neste planeta, a vida era perfeita. Não existiriam birras, chatices, complicações, guerras e mortes a lamentar, apenas bichos simpáticos a alimentarem-se de outros bichos simpáticos, plantas para alimentar outros bichos simpáticos e água e sol para alimentar as plantas que alimentam alguns dos bichos simpáticos. Todos viveriam felizes, uma vez que nenhuma criatura teria noção de que estava viva. Seria simples e seria bom. Mais nada.
No entanto, tinha de aparecer o Homem, com o seu mau feitio, com a sua inacreditável vontade de querer ser melhor e mais perfeito do que era há cinco minutos atrás e com isso, veio a roda, a escravatura, o amor, a inquisição, o telemóvel, as armas e a guerra. Não podíamos ser simplesmente como os outros animais, que muito se divertem sem o saber. Não, tínhamos de complicar tudo e inventar conceitos, ter ideias, inventar problemas, fazer juízos. Com isso, destruímos tudo o que havia de bom e o pior de tudo é que ninguém sabe ao certo para quê. Mais, como se já não nos bastasse destruir tudo o que nos rodeia, temos obviamente de consumir tudo o que nos faz seres excepcionais, como se tivéssemos uma enorme determinação na auto-destruição. Aqui estás tu, a duas semanas de acabar os trabalhos que se foram arrastando nos últimos meses, sem ter a mínima ideia de para que os estás a fazer. Não gostas do rumo que a tua vida tem vindo a levar nos últimos anos. No entanto, por muito obtuso que tenhas sido, ainda vais a tempo de começar de novo. Podes ser melhor que os outros nisso, agora que chegaste à conclusão que tudo o que tinhas adquirido está errado, podes criar tu as tuas regras. Afinal, qual é a vantagem de vivermos a contra gosto? Devias mudar. Vais mudar.

Vais?

escrito por Pedro a 02 dezembro 2006 //

Hábitos Breves

"Gosto dos hábitos que não duram; são de um valor inapreciável se quisermos aprender a conhecer muitas coisas, muitos estados, sondar toda a suavidade, aprofundar a amargura. Tenho uma natureza que é feita de breves hábitos, mesmo nas necessidades de saúde física, e, de uma maneira geral, tão longe quanto posso ver nela, de alto a baixo dos seus apetites. Imagino sempre comigo que esta ou aquela coisa se vai satisfazer duradouramente - porque o próprio hábito breve acredita na eternidade, nesta fé da paixão; imagino que sou invejável por ter descoberto tal objecto: devoro-o de manhã à noite, e ele espalha em mim uma satisfação, cujas delícias me penetram até à medula dos ossos, não posso desejar mais nada sem comparar, desprezar ou odiar. E depois um belo dia, aí está: o hábito acabou o seu tempo; o objecto querido deixa-me então, não sob o efeito do meu fastio, mas em paz, saciado de mim e eu dele, como se ambos nos devêssemos gratidão e estendemo-nos a mão para nos despedirmos. E já um novo me aguarda, mas aguarda no limiar da minha porta com a minha fé - a indestrutível louca... e sábia! - em que este novo objecto será o bom, o verdadeiro, o último... Assim acontece com tudo, alimentos, pensamentos, pessoas, cidades, poemas, músicas, doutrinas, ordens do dia, maneiras de viver." Friedrich Nietzsche, in 'A Gaia Ciência'