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temores de brincar

Constantemente me recordo do brilho hipnótico daquele televisor antigo, mergulhando a penumbra da pequena sala num inóspito rio de medo enquanto o zunido metálico do aparelho se reflectia pelas divisões vazias da casa onde a minha avó morava. Naquela altura, miúdo concentrado na espantosa magia que a imagem criava e nas histórias sem sentido que elas tinham para me brindar, preenchia as minhas noites de solidão em cima de uma desconfortável e velha poltrona azul, agarrando firmemente os tornozelos, contendo os gritos assombrados de mais uma noite em que eu, medroso, me deixava conquistar pela presença de fantasmas imaginados. Uma casa vazia sempre me fascinou, com os seus cheiros e sons irrequietos todos mesclados numa só crua sensação, desprovida da encharcada e confusa agitação em que o mundo vive fora de cada janela, respirando as histórias que cada parede murmura e sempre esperando que da gaveta com mais pó saia um monstro igualmente poeirento, irrequieto e brincalhão para me contar as horas que o seu dia tem. Naquela altura, as casas vazias eram habitadas por fantasmas faz-de-conta criados por uma infância assustada, sem mais infâncias para partilhar ou redes para amparar quedas desajeitadas. Eram fantasmas que sorriam e inventavam, que me entendiam e tudo partilhavam, quimeras de plasticina em lagos serenos ou espectros de pavor em represa aberta. Sentado naquela sala inundada pelo medo de quem passa a primeira madrugada sozinho, falava com as minhas ilusões na esperança de que elas fossem maiores que o meu corpo, rogando por explicações fáceis sobre o que é feito do certo e do errado, sem gritos intrometidos de uma qualquer cólera extraordinária.

Mas o ontem já lá foi e é neste presente sensabor que interessa atentar. Pois hoje vos digo, irresponsavelmente inquieto mas sem fio de medo a varrer as veias, deambulando perdido pelas sombras indiscretas de uma solidão vagabunda, sou assombrado pelas meigas saudades dos fantasmas da minha infância, essas fáceis metáforas do meu pequenino antigamente.

"Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito."

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Hábitos Breves

"Gosto dos hábitos que não duram; são de um valor inapreciável se quisermos aprender a conhecer muitas coisas, muitos estados, sondar toda a suavidade, aprofundar a amargura. Tenho uma natureza que é feita de breves hábitos, mesmo nas necessidades de saúde física, e, de uma maneira geral, tão longe quanto posso ver nela, de alto a baixo dos seus apetites. Imagino sempre comigo que esta ou aquela coisa se vai satisfazer duradouramente - porque o próprio hábito breve acredita na eternidade, nesta fé da paixão; imagino que sou invejável por ter descoberto tal objecto: devoro-o de manhã à noite, e ele espalha em mim uma satisfação, cujas delícias me penetram até à medula dos ossos, não posso desejar mais nada sem comparar, desprezar ou odiar. E depois um belo dia, aí está: o hábito acabou o seu tempo; o objecto querido deixa-me então, não sob o efeito do meu fastio, mas em paz, saciado de mim e eu dele, como se ambos nos devêssemos gratidão e estendemo-nos a mão para nos despedirmos. E já um novo me aguarda, mas aguarda no limiar da minha porta com a minha fé - a indestrutível louca... e sábia! - em que este novo objecto será o bom, o verdadeiro, o último... Assim acontece com tudo, alimentos, pensamentos, pessoas, cidades, poemas, músicas, doutrinas, ordens do dia, maneiras de viver." Friedrich Nietzsche, in 'A Gaia Ciência'