escassa eternidade
Sinto o sangue a precipitar-se apressado pelos veios das minhas têmporas, deixando-me exausto na tentativa de subjugar a minha liberdade irreflectida. Mordo os lábios até deles cair o seu néctar escarlate, procuro abstrair-me das amarras que criaste no meu espírito, carrega-me morto se for preciso. Tira-me daqui e atira-me para um céu onde tenhas a certeza de jamais sobrevoar. A máquina de escrever encravada que é a minha imaginação não consegue parar de cair em trigais de tesouras afiadas, as minhas pernas enfraquecidas pela demência obrigam-me a percorrer os dois metros e meio que separam as paredes do meu quarto em percursos paranóicos por um alívio de qualquer epiléptico saber que a inocente mais desatenta se possa lembrar de trazer. Rasgo o couro cabeludo com as unhas por fazer, toco brandamente na atmosfera megalómana que me rodeia - acabem com isto, façam-me parar por favor, alguém me segure porque eu vou viver. Por vezes deixas-me assim, sem conseguir discernir se quer qual o modo mais sensato de inspirar a vida e expirar o terror, incapacitando-me de crescer para sempre, qual Peter Pan invertido na mágica e perdida Terra do Sempre. Obrigas-me a esquecer, a arrepender-me e a saber que o percurso natural das coisas varia entre o péssimo e o monstruoso. E são apenas escassos dias. Escassos dias sem aquele temeroso barulho infantil, sem a atroada incisivamente lasciva, a voz ignorante e aquele teu rumor agressivo. São só escassos dias que tu, mesmo sem um olhar atento ou uma atenção desinteressada, tens para me brindar.
Era tarde e ambos nos encontrávamos cansados de uma vida que ninguém pediu mas que pelo menos um tem direito a cobrar. De rosto fechado e sem lugar seguro para colocar as mãos, saíste pela porta levando contigo tudo aquilo que nunca procuraste ser. Mesmo sem o desejar, espero que o encontres.
22:27
senti-me tanto nessas linhas que por momentos senti-me história :s
sempre magnificio
* topo
23:33
Gosto muito do teu estilo...
simplesmente marcante :) topo