clamor
Olá graciosa e perfumada madrugada, que tal um grito para adoçar o teu céu estrelado?
Podem não te interessar as minhas estórias, a ti a quem basta um brilho de Vénus e um sorriso de Lua para encantar qualquer belo apaixonado mais desprevenido, mas apaga por uns momentos o teu esplendor e atenta ao pulsar controlado que todas as noites tenho de ouvir nas profundezas da minha almofada, perdido no meio de tanta definição e certeza sobre o que quero não fazer, desvairado por não poder seguir aquela canção que manda o mundo mudar de vida. Não te dá vontade de explodir histericamente num espectáculo de auroras imperiais a dançar a mais longa das valsas ao som da orquestra dos oceanos e do coro de uma brisa taciturna? Leva-me daqui, ébria noite dos mais profundos sonhos, transporta-me para onde das alturas vires que a queda é maior - faz-me percorrer o mundo cem vezes ou mais, se assim for preciso, mas oferece-me a certeza de um tombo de gigante – e deixa-me desamparado onde o teu deleite for maior. Mas não pode, diz ela, diz que o nó das amarras é mais forte do que a força do dia e da noite juntos, enfurece-se, endoidece, desiste e destrói-me. E é por isso que gritar se torna a única opção. Numa sonata mal escrita, desespero em enraivecidos cantares de liberdade, solto dos pulmões salvas de lágrimas iradas, dores de pessoas por conhecer e espíritos por ser, solto as cordas de cólera que me prendem a uma infantilidade despegada e grito por eles, exclamo por elas, berro por todos e lanço um bramido por ninguém, esse ninguém que merece mais que todos eles e todos elas, esse ninguém que está preso à cadeira eléctrica da minha exaltação, pronto a ser condenado à morte por toda a companhia que nunca fez e o alento que nunca deu, seguro de que a morte é bem servida a ninguém quando a todos não se pode culpar. Esta noite sinto-me mais confortável, deitado na areia a contar os pirilampos adormecidos das estrelas enquanto o mar só para mim canta. Nesta praia vazia, repleta de ti, de todos e de ninguém, tento sair de dentro de mim enquanto é tempo.
16:39
"Deixa-me desamparado onde o teu deleite for maior". Acho que nunca li a madrugada - esse conjunto de tempo maior dos dias - tão bem caracterizada.
Gosto muito de me perder na noite * topo
16:55
Gostei muito ;)
beijinhos topo
23:49
hoje mais q nunca preciso sair d mim. so de mim.
beijinho topo