ego
Fanatismos incondicionais à parte, o nosso ego em tudo se assemelha a um singular animal carente de aceitação e conforto, esperando pacientemente pelos nutrientes que o seu dono lhe fornece diariamente ao longo de toda a sua duradoura vida. Aquando da falta do bolo alimentar necessário para se manter, o ego aventura-se a enfrentar um temeroso esgotamento que pode mesmo levar o seu portador a uma quebra incontornável do seu brio e fulgor habitual. Um indivíduo não precisa de despender muito do seu tempo a analisar um grupo de pessoas para entender que todo o jogo de palavras que entre elas decorre se resume a uma luta de egos, ciosos de sobressair mais do que os outros animais, impacientes por devorar cada pensamento mais ou menos elaborado que os seus proprietários souberam conjugar. Na grande maioria das partes fazemo-lo de forma involuntária, comparando pensamentos ou formas de agir nas mais diversas situações, mas são também muitas as vezes em que se torna descarado o modo como outrem tenta imprimir no nosso raciocínio as suas certezas absolutas e absolutamente disparatadas. Cair em jogos de egos é um dos maiores erros em que a pessoa pode capitular, sob pena de entrar numa luta da qual não quer fazer parte e na qual, uma vez dentro, não poderá sair sem entrar em extremismos inadvertidos e que em nada se assemelham às reais aspirações individuais.
Gosto de egos pouco insuflados, senhores do seu devido e merecido orgulho mas que sabem quando é tempo de parar. Por outro lado, abomino egos, como o meu, que por vezes não conseguem controlar a verborreia automaticamente debitada que libertam em pleno debate de ideias e que, em geral, transportam quem nos ouve até uma refulgente estupefacção seguida por um imenso descrédito por tudo aquilo que queremos realmente afirmar. Cada vez mais se diz muito sem pouco dialogar, o que leva a um inevitável afastamento das pessoas e a uma precariedade no juízo que das nossas ideias e posições se retiram. É uma pena. A culpa, acho, é da necessidade de termos um ego maior do que aquele que realmente nos assenta às medidas.
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"Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito."