demência
Pinceladas de uma loucura anunciada abusam de mim como sua tela em dias como este, onde a exaustão do que não quer ser feito se apodera de toda a minha falta de vontade para a concretizar no ócio de luzes que dificilmente poderiam ser mais monocromáticas. Perco-me na ambiciosa serenidade oceânica de nada fazer, mirando o algodão do pensamento como quem busca um fio mais branco que todos os seus níveos irmãos, brinco no baloiço da impaciência que tanto teima em oscilar sem a bravura necessária para me lançar no longínquo. Parece uma eternidade, este momento que dura dias a passar, teimando e insistindo para que seja concluída a tarefa que, a ser genuinamente cândida, nunca deveria ter sido iniciada. Parece um instante, a eternidade que passou enquanto era evitada essa mesma tarefa, numa tentativa desesperada de que de olhos cerrados os problemas se transformassem em fumo de cores infinitas, embelezando a era que se seguiria, beleza inocente para todo o meu exíguo sempre. E é todo o empenho em adiar o necessário que torna em cinza a própria chama presente a cada alvorada, corrói os elos com o mundo até deles restar uma pobre memória, transforma toda a sensatez em penosa demência.
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"Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito."