que se retirem todas as mãos dos deploráveis bolsos
Que se retirem todas as mãos dos deploráveis bolsos, faça-se com que todas as televisões e computadores impludam numa visão eternamente memorável e reconfortante, que se erga a maior revolução de sempre contra o abismo provocado pelo maldito tédio! Sorrisos deste mundo, abram-se diante a chuva de especiarias nunca antes por nós experimentadas, a torrente de orgasmos mais arrebatadores de sempre e toda a abundância de cores que daqui em diante se vai abrir perante todas as almas enfadadas deste mundo e de todos os demais que existirem à nossa volta, ocultados pela nossa complacência para com a falta de criatividade! Sintam a energia que a felicidade dos outros transmite, juntem-se a eles, cantem, destruam as vossas gargantas com eles e por eles! Ouçam os acordes dados pelo extraordinariamente desafinado mas sublime piano deste eminente motim, aspirem bem fundo a essência deste perfume com que todos os homens e mulheres se cobriram para o dia que agora nasceu, que se corra pelas ruas, se calque todas as folhas que o Outono fez cair e toda a merda que os animais dos donos de todos os cães do planeta decidiram não retirar do passeio e, mais importante que tudo, que se siga o seu exemplo e se quebre todas as regras cujo virtuoso bom senso contemporâneo permitir. Não possibilitem que nenhum ser reste sem o amor de outro ainda mais belo que ele, façam caso que sejam lidos todos os livros da terra no mais curto espaço de tempo possível, explorem tudo o que julgam conhecer o mais profundamente possível, suem, por favor, suem e sintam todo o vosso corpo a ceder à ininterrupta cadência da revolta. Elevem-se o mais que puderem e admirem bem o mundo que desde sempre esteve aqui para vos regozijar e em vez alguma ter pedido fortuna em troca. Conciliem-se com tudo o que vos atormenta e, se necessário, ergam as vossas almofadas, mais alto, o mais alto que vos for possível, lutem com elas, alimentem o mundo com o vosso próprio corpo se essa for a única solução, façam todos os outros à vossa volta chorar compulsivamente de tanta alegria presa num corpo tão pequeno e por fim morram. Desapareçam, para aí se permitirem por fim a dizer
Não foi em vão.
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"Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito."