o parque
E porque ficar em casa não é vida, - mas sim um dos muitos hábitos breves, com a distinção deste se tornar mais breve que os restantes por minha indicação - saio de casa para expulsar tudo o que possa estar contido cá dentro com uma corrida pelo parque. Diga o que se disser, nada é melhor do que uma corrida ao final da tarde pelo único sítio desta cidade onde a urbe ainda não se aventurou, preenchido por aquele perfume que todas as árvores do parque da cidade libertam. Ao mesmo tempo, é bom ver tanta gente a partilhar esta satisfação, passeando com o marido depois de um dia de trabalho mais cansativo que o normal, namorando com a sua mais que tudo, um ano e meio depois daquele primeiro beijo, treinando com o seu amigo a quem a mãe morreu faz hoje sete semanas ou divagando sozinho por entre aquele bosque que mais parece ter caído de um sonho antigo. Invariavelmente, acompanhada ou não, cada pessoa se vai isolar por uns segundos admirando tudo aquilo que a natureza nos oferece ali e todo o bem estar interior que ela cria em nós.
Por muito incógnito que possa ser o amanhã, sei que mesmo estando nos meus piores dias, o parque estará ali, pronto para trazer o meu bom humor de volta com duas corridas ou três.
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"Mas a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo dialético, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito."